quarta-feira, 17 de abril de 2013

HISTÓRIA CONCISA DA LINGUÍSTICA


HISTÓRIA CONCISA DA LINGUÍSTICA
INTRODUÇÃO
Segundo Barbara Weedwood, a Linguística ficou conhecida por meados de 1950, por predomínio de Ferdinand Saussure.
A linguística é uma ciência geral que estuda os mais variados tipos de fatos de natureza moral ou social da linguagem, além disso, também estuda as gramáticas tradicionais e a filologia.
No entanto pode-se observar uma grande distinção entre linguística e filologia, pois a linguística se preocupa em estudar a língua, ou seja, ela trabalha sob o ponto de vista da sincronia em detrimento da diacronia desprezando o sintagmático ao paradigmático, já a filologia prioriza a fala, trabalha sob ponto de vista da diacronia e dispensa maior atenção à qualidade e dados concretos, ou seja, é o estudo dos textos e das linguagens antigas.
A filologia se difere da linguística por que estuda textos-escritos literários enquanto a linguística embora não despreze a escrita, volta-se intensamente para a linguagem oral. 
Barbara Weedwood diz que o campo da linguística pode ser dividido por meio de três dicotomias, que são elas:
Sincrônica que faz um recorte na linguagem e a estuda em determinada época, e a linguística diacrônica que estabelece um estudo da linguagem durante o transcorrer do tempo, isto é, a perspectiva diacrônica determina um estudo histórico da linguagem, no transcorrer de distintas épocas, visando à descrição da evolução linguística.
A linguística teórica tem como objetivo estudar como as pessoas usando suas particulares linguagens conseguem realizar comunicação, quais propriedades todas as linguagens têm em comum, qual conhecimento uma pessoa deve possuir para ser capaz de usar uma linguagem e como a habilidade lingüística é adquirida.
 Já a linguistica aplicada, tem como objetivo um estudo que identifica, investiga e oferece recursos para solucionar problemas, geralmente referentes ao ensino de línguas, à tradução ou aos distúrbios de linguagem.
 A microlinguística trata unicamente de sistemas lingüísticos, ou seja, tem uma visão mais estreita e a macrolinguística trata de tudo o que é pertencente às línguas, isto é, tem uma visão mais ampla.
Pode-se dizer portanto que dentro da microlinguistica estão incluso os estudos que se preocupam com a” lingua em sí”, por exemplo: fonética e fonologia , sintaxe, morfologia, semântica e lexicologia.
Dentro da macrolinguistica também pode-se destacar diversas áreas como: psicolinguística, sociolinguística, linguística  antropológica, dialetologia, linguística matemática e computacional, estilística etc.
Weedwood enfatiza que o sânscrito, a lingua sagrada da Índia se tornou conhecido do mundo intelectual através dos tres modos de impacto desta lingua sobre a ciência linguítica moderna. Por esse motivo aconteceu o surgimento da gramática comparativa indo-européia, e daí despontou os fundamentos para a construção da filologia comparativa e da linguística histórica do século XIX.
Segundo a autora, para essa construção , o sânscrito era meramente parte dos dados; o ensinamento gramatical indiano não exerceu nenhum papel dominante direto. Os estudiosos do século XIX, todavia, distinguiram que a noção de fonética da Índia antiga era largamente superior ao conhecimento ocidental neste campo com isso houve extraordinárias consequências para o desenvolvimento da ciência fonética no Ocidente.

 1.LINGUISTICA E SUA HISTÓRIA
Para Barbara weedwood a historia da linguistica é pensada a cada passo como uma disciplina muito nova. Pois esta só se tornou conhecida há algumas décadas. Porém os seres humanos estudam a linguagem desde o aparecimento da escrita, e também muito antes disso.
A autora dar exemplos de que na Índia antiga, a investigação da fonética articulatória deu-se por motivo de conservar viva a pronúncia exata dos textos religiosos ancestrais. Por outro lado na Grécia clássica a grande preocupação era manter um vocabulário técnico e conceitual para ser empregado na análise lógica das preposições e teve como resultado um sistema das partes do discurso que findou tendo uma evolução que excedeu em muito as cobranças adjacentes dos filósofos que no entanto sentiram a necessidade de tais categorias.  
Barbara Weedwood diz que a linguística na definição pós-saussuriano passou a ser classificada como uma disciplina diferente dos estudos de linguagem dominantes do século XIX, como a filologia comparativa e a histórica, além disso encontrou seus historiadores.

2. A TRADIÇÃO OCIDENTAL ATÉ 1900
Segundo Barbara Weedwood  a história registrada da linguística ocidental começou em Atenas. E teve como primeiro estudioso da linguagem o filósofo  europeu Platão. O primeiro questionamento no mundo ocidental feito sobre a linguagem tentava determinar se ela era fonte de conhecimento ou era um meio, simplesmente, uma comunicação. Entretanto algumas ideias foram emprestadas de fontes externas como: da tradição judaica, da linguística hebraica e árabe e da Índia por volta de1800. Porém a tradição ocidental tinha seu próprio nível de evolução.
A abordagem que os gregos faziam era na tentativa de descobrir a origem das palavras, se provinham de uma natureza ou de uma convenção.
Neste diálogo três personagens debatiam a questão, ou seja, o Crátilo que diz que a língua espelha exatamente o mundo, o Hermógenes que diz que a língua é arbitrária e Sócrates que faz um balanceamento das duas teorias anteriores. Portanto estabeleceu-se que a relação das palavras com as coisas não era direta e sim indireta, todavia ainda faltava determinar a natureza delas.
Já Aristóteles um aluno e seguidor de Platão, pensando no processo da linguagem, determinou tres etapas, onde estabeleceu-se que os signos escritos representam os signos falados, os signos falados representam impressões na alma, e as impressões na alma são a aparencia das coisas reais. Os estóicos e alguns estudiosos a crescentaram em sua pesquisa mais uma etapa entre a impressão e a fala, o conceito como sendo uma noção que pode ser verbalizada.
O conceito foi estabelecido como um lógos um enunciado significativo dirigido pelo pensamento racional. Daí surgiu o léxis que não precisava obrigatoriamente ter significados. Desde então com as pesquisas se aprofundando os enunciados foram sendo estudados cada vez mais em menores partes. Platão as classificou em funcional e semântica e não formal.
A autora resalta que Platão delimitou a “ónoma” que significa nome  e corresponde ao sujeito. E a “rhema” que  significa palvra ou frase e corresponde ao predicado, ou seja, verbo mais adjetivo. Depois de algum tempo Aristóteles, seguidor de Platão e os estóicos delimitaram mais algumas classes, tais como: o “sýndesmos” (conjunção), que não tinha caso e nem juntava o texto, e o “arthron” (artigo), que tinha caso e se diferenciava no número e genero dos nomes.
Apartir de então estes estudos e pesquisas foram ainda mais classificados podendo distingui-los como “metoche” (particípio), isto é, parte do discurso que recebe artigos, nomes ou flexões de tempo como o verbo, a “antonomásia” (pronome), ou seja, que é usado no lugar de um nome, o “próthesis” (preposição), só tem uma forma colocada antes de um novo discurso, é definida como uma parte do discurso que tem somente uma forma (invariável), “ephírrhema” (advérbio), uma só forma colocada antes ou depois do verbo e indica muitas situações.
Em todas essas definições mostram a ênfase dos gregos nos aspectos de significados do enunciado (semântica). Posteriormente o estudioso Apolônio Díscolo fez um estudo mais profundo da sintaxe grega dando alguns diferentes níveis de linguagem, essa regras podem ser aplicadas as sílabas, a ortografia, podendo recuperar uma palavra mal grafada, e a sintaxe pode recuperar a estrutura verdadeira de uma frase. Suas ideias tiveram uma participação indireta Pré-ocidentais. Os estudos gregos não foram transpostos para o latim da antiguidade diuturna dificultando a análise desse material. Porém algumas ideias gramaticais gregas foram filtradas pelos romanos, como a de teoria da frase auto-suficinete, que se limitou em estudar a frase isoladamente e essa ideia permaneceu até os dias de hoje, e pode-se observá-las quando nas gramáticas contemporâneas a sintaxe é estudada com frases soltas. Todavia outros estudos veem a necessidade da frase ser gerada em um contexto.
Barbara Weedwood também fala sobre a teoria da littera, onde alguns estudiosos como os estóicos a descrevem como uma entidade com três propriedades: seu nome (nomen), sua forma ou aspecto escrito (figura), e seu som ou valor (potestas). Outros estudiosos como Platão e Aristóteles dizem que litterae, ou melhor, a letra se manifesta em forma de vogais → consoantes → semivogais → mudas.

3. A LINGUÍSTICA NO SÉCULO XIX
Segundo Weedwood o método comparativo foi um dos estudos linguísticos mais importantes do século XIX, através dele puderam-se comparar os sistemas fonéticos, estrutura gramatical e vocabulário e assim comprovar que eram “genealogicamente” apresentadas. Através do método comparativo foi possível se estabelecer uma língua materna, o indo-europeu, que seria o tronco linguístico de um grupo de línguas da Europa e da Ásia. O mesmo método aplicado às línguas românicas possibilitou o estabelecimento da origem comum destas línguas em uma linguística denominada latim vulgar.
O desenvolvimento do método comparativo se deu exclusivamente ao final do século XVIII, quando então a língua sânscrita já não era mais falada e era preservada somente na escrita.
Barbara coloca que um dos linguistas mais originais e que trouxe grandes contribuições em todo o século XIX foi o diplomata alemão Wilhelm Von Humboldt, ele destacou o vínculo que havia entre línguas nacionais e caráter nacional, o que por sua vez era um lugar comum do movimento românico. Segundo Humboldt, uma língua não é uma coleção de enunciados organizados pelos falantes, e sim a origem subjacente que permite aos falantes produzir tal enunciado, ou melhor, um número ilimitado de enunciados.
A linguística histórica que Saussure chamou de diacrônica no século XIX, se preocupou em deixar claro que o português do século XV é diferente do português do século XXI. Sendo fica evidente que a comparação é um meio para conhecer a história das línguas e estabelecer famílias linguísticas. 
Já o método comparativo na linguística histórica se preocupa com a evolução das línguas e não como elas funcionam, ou seja, trata de estabelecer um estágio mais antigo da língua com fundamentos na comparação das palavras e expressões compostas em distintas línguas ou dialetos procedidos dela. O método comparativo implica em comunidades de fala linguisticamente igual e um progresso independente de uma separação brusca e radical.

4. A LINGUÍSTICA NO SÉCULO XX
Neste capitulo observou-se que a linguística do século XX abordava as questões das épocas antecedentes entre o foco “universalista” e o foco “particularista” na abordagem dos elementos da língua e da linguagem. 
Weedwood diz que o termo estruturalismo tem implicações diferentes segundo o contexto em que é empregado, sendo assim é necessário diferenciar o estruturalismo europeu e o americano, e posteriormente tratá-los isoladamente.
Diz ainda que o marco inicial da linguística estrutural na Europa foi a publicação póstuma do Curso de Linguística Geral de Ferdinand de Saussure. Pois muito do que hoje se considera saussuriano pode ser visto no trabalho anterior de Humboldt, que se referia em termos de sua própria descrição da forma interna e externa do sistema. 
Segundo Weedwood, o estruturalismo de Saussure pode ser resumido em duas dicotomias que são elas: langue em oposição a parole e forma em oposição a substância, sendo que langue representa um “sistema linguístico” e parole “comportamento linguístico”  desse modo pode-se destacar dois pontos essenciais: o primeiro, que  a abordagem estrutural não fica restrita â linguística sincrônica; e o segundo, que tanto o estudo do significado quanto o da fonologia e da sintaxe podem ter uma orientação estrutural. Em ambos os casos, “estruturalismo” se opõe a “atomismo” na literatura europeia.  Os linguistas americanos e europeus daquele século tenderam a enfatizar a incomparabilidade estrutural das línguas individuais. A partir do final do século XIX, haviam nos Estados Unidos várias línguas indígenas não registradas e a descrição dessas línguas poderia ficar distorcida se fosse analisada pela categoria indo-européia. 
A autora classifica dois linguistas americanos como mais influêntes nesta época que são Edward Sapir, que fez a junção da antropologia e da linguística, o que atraiu os linguistas americanos, e essa vertente é ensinada até hoje em universidades americanas. E Leonardo Bloomfield, que ao publicar language eliminou toda referência a categorias mentais ou conceituais, já que dava uma abordagem behaviorista do estudo da língua. Para ele, o significado é simplesmente a relação entre um estímulo e a reação verbal. Uma das características mais marcantes do estruturalismo americano é o desprezo que Bloomfield tinha pela semântica. Além disso, outro aspecto característico dessa época foi sua experiência de estabelecer uma linha de técnicas de descoberta, que por sua vez era muito criticada por Chomsky.
Chomsky foi professor de linguística no MIT (Massachusetts institute of tecnology). A partir do século XX com seu trabalho, a gramática gerativo-transformacional, ele desenvolveu conceitos e trouxe um elemento novo, o de que a linguagem humana é criativa, e de que a capacidade, ou seja, a competência de uma pessoa com bom grau de instrução, através da qual ela consegue produzir um número ilimitado de frase, é que determina a gramaticalidade ou a aceitabilidade da língua. Portanto pode-se dizer que a gramática gerativo-transformacional representou um movimento em oposição ao então predominante estruturalismo. Outro ponto importante da proposta de Chomsky foi a elaboração de um aparato técnico para tornar claro o conceito de competência ­­­e também o princípio de normas e comparações que proporciona um aspecto formal da composição sintática, semântica e fonológica dos enunciados. Desde então esse conceito primordial fez com que a abordagem da regra transformacional fosse designada como gramática transformacional.
Barbara Weedwood também fala em seu livro “História concisa da linguística” sobre: A Escola de Praga e o Funcionalismo, segundo ela a Escola de Praga como hoje é conhecida, teve um grupo muito grande de pesquisadores, dentre eles europeus, que por mais que não estivessem diretamente ligados ao Círculo de Praga, tiveram como inspiração, o trabalho de alguns estudiosos como: Vilém Mathesius, Nikolai Trubetzkoy, Roman Jakobson e outros que baseados em Praga da década que antecedeu a II Guerra mundial.
Uma das características mais importante da “Escola de Praga foi sua combinação de estruturalismo com funcionalismo”. O estruturalismo era usado de diferentes maneiras dentro da linguística. Aqui devemos entendê-lo como uma análise da variedade de papéis exercidos pela língua e uma noção teórica de que a estrutura das línguas é, na sua maior parte, definida por suas funções características. Já o funcionalismo, tomado neste sentido, despontou dos postulados mais exclusivos da teoria da Escola de Praga. Algumas características marcantes do funcionalismo eram: a função cognitiva da linguagem, a função expressiva e a função conativa.
A partir daí surge então a guinada pragmática, que foi quando alguns linguistas se preocuparam mais diretamente ao uso que os falantes fazem da língua, ou seja, os linguistas se preocuparam em conhecer mais a fundo o que e porque houve diferença no uso da língua, de que forma ela se manifestou e quais os efeitos que ela teve sobre o público ouvinte.

           

REFERÊNCIA:
WEEDWOOD, Barbara. História concisa da linguística / Marcos Bagno. — São Paulo: Parábola Editorial. 2002.

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